sábado, 4 de dezembro de 2010

INESQUECÍVEL FESTA DA PADROEIRA.

Lembranças de criança


Dizem que homem não chora
Mas que quero discordar.
Porque sempre que eu lembro
Do meu velho Ceará,
Onde vivi quando menino
Mas por artimanha do destino
Fui obrigado deixar.

Bate uma dor no peito
Não consigo suportar,
A saudade chicoteia
Não tem como segurar
E como duas nascentes
Dos olhos desobedientes
Lágrimas põem-se a jorrar.

A vida era muito dura
Cheia de dificuldade
Mesmo assim pode crer
Eu sinto muita saudade.
E com alegria lembro
Que todo mês de Dezembro
Tinha festa na cidade.

Durante o ano inteiro
Eu guardava alguns trocados
Uns eu mesmo ganhava
Trabalhando no roçado
Outros papai me dava
Com alegria eu guardava
Em um bauzinho quebrado

Papai comprava para mim
Também para meu irmão
Uma calça xadrez
E uma camisa de algodão
E do mais fraco material
Um ténis da Montreal
Motivos de satisfação.

Em todo mês de Dezembro
Na festa da padroeira
Vinha um parque e um circo,
De Lavras de Mangabeira.
Trazendo felicidade
E tirando da cidade
Aquela calma rotineira.



Durante o mês inteiro
Alegrava a cidade.
Mas para um menino pobre
Tudo era novidade,
E ver a roda gigante
Além de emocionante
Era uma felicidade.

Aquelas luzes coloridas,
O carrossel que girava
Eu achava tão bonito
E quilo me encantava.
Mas alegre de verdade
A maior felicidade
Era quando o circo chegava.

Eu acompanhava tudo.
Levantar a lona, o picadeiro,
As arquibancadas de madeira
Até a colocação do letreiro
E se eu não trabalhasse
E se papai não brigasse
Eu ficava o dia inteiro.

Mas pra toda criança pobre
A falta de dinheiro é um açoite.
O circo é como um sonho
Que chega antes noite,
Mas me fazia acordar
Ao ouvir um homem falar:
Respeitável público, boa noite.

Eu ficava tão feliz,
Meu coração transbordava
Borbulhando de alegria
Meus olhos até brilhavam,
Ao ver o equilibrista
O palhaço o trapezista
Que no trapézio voava.

Um bode e um elefante
Velhinho todo enrugado,
Um homem cuspindo fogo
E um leão aleijado,
O palhaço Cebolinha
E uma mulher gordinha
Rolando em vidro quebrado.

Um homem em cama de prego
Chamado peito de aço,
Quebrando pedra no peito
Deixando só os pedaços.
Sem dinheiro para entrar,
Eu me obrigava gritar
Correndo atrás do palhaço.

Em suas pernas de pau
Pelas ruas e calçadas
Cebolinha era seguido
Pelos gritos da molecada.
Ele ia perguntado
E nós íamos respondendo
De forma bem engraçada.

Hoje tem espetáculo?
Tem sim senhor.
Olha o palhaço na rua.
Ladrão de perua.
E o palhaço na linha?
Ladrão de galinha.
E o palhaço o que é?
Ladrão de mulher.

Mesmo muito envergonhado
Cabelo embaraçado, avermelhado
Todo queimado do sol,
Eu gritava com a molecada
Para ganhar uma entrada
No velho circo caracol.

Hoje, só me resta chorar
Quando me ponho lembrar
Momentos de minha infância.
E uma grande vontade
De rever minha cidade
E voltar a ser criança.

E pelas ruas estreitas
Por todos os becos escuros
E esquinas de minha cidade.
Correr feito um espírito vadio
Galopar pelas trilhas do passado
Para matar a saudade.

Do palhaço Cebolinha
Com suas pernas de pau,
Rever todos outra vez.
Colegas, companheiros e amigos
Que viveram isto comigo
Por onde estarão vocês?

O Ferrugem, o Galego,
Manquinho, Catatau, Vesgo
O Burrela, bola, esqueleto,
E aqueles que por falha da memória,
Esqueci o nome ou apelido
Vossa imagem esta gravada em meu peito.

Como estará hoje minha cidade?
Por onde andarão vocês?
A que rumo vos levou o destino?
Será quem vive? Quem já morreu?
Quem estará assim como eu?
Revivendo o tempo de menino.


Francis Gomes

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