O nordeste está órfão, e o trono vazio,
os céus em festa e a terra triste
No nordeste, a ausência da chuva a seca que castiga não derrota o bravo sertanejo que sempre encontro motivos para sorrir e cantar. Festejar a própria miséria e sorri da sua desgraça parece ser isso que o sertanejo faz melhor.
Zombar dos empecilhos da vida e driblar o destino para sobreviver a meio tantos desatinos que a vida oferece. Mas há uma força superior a qual o heroico sertanejo não pode vencer.
Salomão bem escreveu quando disse que nenhum homem tem domínio sobre o espírito para retê-lo nem tem poder sobre o dia da morte nem há armas nesta peleja. E é por isso que o nordeste está órfão e o seu trono ficou vazio os céus em festa e a terra triste.
Primeiro foi o rei do baião Luiz Gonzaga, e agora o príncipe do forró, Dominguinhos.
Deus lá de cima viu
Que aqui tava bom de mais.
No nordeste que sem pré foi
Mel e fel
Ficou sem rum nem prumo,
Como não tem jeito que dê jeito
Nem adiantou
Olhar pro céu
Cantar viva o rei
Alvorada da paz e
Apelo ao soberano,
Porque eles já tinham
Um lugar ao sol.
Deus tocou no nosso ponto franco
E recolheu a última estrela
De volta ao seu aconchego
Depois da asa branca
A estrela Gonzaga
Dominguinhos,
Sem se despedir de mim disse:
Não prende minhas asas,
Tô indo embora.
Vou voltar
A casa grande.
Deixou uma saudade matadeira,
A sanfona sentida
E foi cantar viva ao rei
Na nova Jerusalém
Na cabana do rei
Um baião de dois
Com a estrela Gonzaga.
Enquanto tem festa no céu,
Pra nós só resta dizer
Valha me Deus, senhor são Bento.
E chorar no umbuzeiro da saudade
A triste partida
Do baião que vai
A festa dos santos réis.
Francis Gomes