De férias no Cariri, bolsistas do governo cubano reconhecem que Medicina é um serviço em benefício à comunidade
Estudantes Anderson Soares, Alfredo Leite, Erivaldo Rodrigues e Cícero Erisvaldo Belarmino beneficiados com a bolsa de estudos para Medicina, em Cuba (Foto: Antônio Vicelmo)
Farias Brito. O sonho de quatro jovens pobres da zona rural e periferia de Farias Brito em serem médicos está se tornando realidade. Os estudantes Alfredo Leite Macedo Filho, Erivaldo Rodrigues de Alencar, Anderson Soares Macedo e Cícero Erisvaldo Belarmino estão de férias no Cariri revivendo uma aspiração que nem eles acreditavam. Os quatro estudam na Escola Latino-Americana de Medicina de Cuba. Para eles, que foram criados no cabo da enxada, sem perspectiva de cursar uma faculdade, o médico era um espécie de semi-Deus. “Depois de um temporada em Cuba, os jovens caririenses voltaram conscientes de que a medicina é um instrumento de prestação de serviço à comunidade”, diz o professor Eldinho Pereira, responsável pela descoberta do caminho que levaria os jovens a estudar em Cuba.
Eldinho conta que em dezembro de 2002, o governo cubano disponibilizou dez bolsas de estudo para jovens com procedência rural ou família de baixa renda. Esses ingressariam na “Escuela Latino Americana de Ciencias Medicas” (ELACM), conhecida por aqui como Universidade Latino-americana de Medicina. Das dez bolsas disponíveis para o Brasil, cinco eram destinadas a homens e cinco a mulheres, sendo quatro para os jovens de Farias Brito. Para participar da seleção, os pretendentes deveriam atender às condições previamente estabelecidas pelas instituições envolvidas. Os interessados deveriam ter até 25 anos, Ensino Médio concluído, bom estado de saúde, certificado negativo de antecedentes penais, procedência rural ou baixa renda.
Exemplo de luta
Os quatro jovens de Farias Brito estavam enquadrados no perfil exigido pelo edital. Um deles, Cícero Erisvaldo Belarmino, tinha uma história marcada pelo sofrimento e espírito de luta. Nascido nos confins da serra do Quincuncá, a mais de 30km de Farias Brito, Erisvaldo perdeu o pai vítima da Doença de Chagas e um irmão vítima de Leucemia. Trabalhou em uma serraria. Sofreu acidente de trabalho, o que ocasionou a perda de um dedo da mão.
Mesmo assim, Erisvaldo passou em dois vestibulares da Universidade Regional do Cariri (Urca). Era um dos melhores alunos do Curso de Economia. Quando o professor Edinho lhe falou sobre a possibilidade remota de fazer medicina em Cuba, Erisvaldo não mediu conversa. Vendeu uma moto, única herança que seu irmão lhe deixou e com o dinheiro preparou a documentação para se submeter aos testes e viajar.
De volta ao Cariri, em companhia de outros conterrâneos, que estudam na mesma universidade, Erisvaldo não esconde a timidez. Na serraria, onde trabalhou, com o barulho das máquinas, ele aprendeu mais a ouvir do que a falar. Em Cuba descobriu que o médico não é um ser extraordinário, como imaginava. É um missionário a serviço da comunidade. Com esta visão, ele pretende voltar ao Cariri, junto com os companheiros, a fim de prestar a assistência que ele não teve naquela época em que perdeu o pai e o irmão. Para Alfredo Leite, primeiro selecionado pelo projeto, a permanência em Cuba contribuiu para fortalecer a sua convicção de que todos os homens são iguais.
Quando jovens terminarem os estudos, os jovens terão outro desafio: revalidar o diploma. O Conselho Federal de Medicina manifesta-se contra o projeto no Congresso, para facilitar o reconhecimento dos diplomas de medicina obtidos em Cuba por brasileiros.
Cooperação
Cuba manteve uma atitude solidária, desinteressada e de cooperação com os países do Terceiro Mundo na formação de técnicos e profissionais, chegando nos anos 80 a ser o país com mais alto per cápita de bolsistas estrangeiros. Apesar das difíceis condições impostas pelo Período Especial se deu continuidade, ainda que em escala menor, ao programa de bolsas. As bolsas compreendem alojamento, alimentação e estudos gratuitos.
Mais informações:
Bolsa de Estudos em Cuba
Eldinho Pereira da Silva
Rua Marcos Macedo, 187
(88) 3523.7347
www.embaixadacuba.org.br
ANTONIO VICELMO
Repórter
Um comentário:
86524392 Eu quero estudar.
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