No dia 20 do corrente mês foi comemorado o Vigésimo Natal das Famílias do Sítio Patarábia pelo casal Dr. Iari Lacerda e Maria Laice Almeida.
É uma prática que permanece viva desde quando o casal recebeu por herança de seu pai e sogro Aurélio Liberalino o sítio, juntamente com sua irmã Salete Almeida .
Essa confraternização é celebrada com uma Celebração em ação de Graças por jovens do Crato ligados à renovação carismática, seguido de um Jantar, Entrega de Alimentos e Recreações com sorteios.
Além das famílias do sítio Patarábia temos a presença de famílias do Sítio São Vicente, Riacho Verde e Cachoeira, além de nossos familiares e amigos que nos acompanham nesta parceria.
Este ano nós comemoramos de uma forma mais especial porque estávamos celebrando os vinte anos que aqui chegamos na fazenda.
Na ocasião foi apresentado um texto em multimídia narrando toda a nossa história com estas famílias e todos os eventos que vivenciamos juntos. O texto está apresentado a seguir.
No ensejo queremos agradecer a todos que de forma direta ou indireta nos apoiaram neste projeto e desejamos votos de um 2014 repletos de saúde, paz e alegria!
Iari e Laice
Fotos: Yuri Lacerda
Fazenda Patarábia: nossa Linda historia de Amor! - por Laice Almeida
Uma linda manhã do mês de outubro de 1993 chegamos ao
Sítio Patarábia. Meu pai, Aurélio Liberalino havia falecido em 20 de junho
deste mesmo ano e havia nos deixado o Sítio como herança, juntamente com a
minha Irmã Salete.
O primeiro contato que tivemos com as famílias aqui
residentes foi bastante emocionante, pois elas gostavam muito dele e o tinham
como verdadeiro amigo.
Já nesse primeiro olhar, nos apaixonamos pelo lugar e
pelas pessoas que aqui moravam, pois eram bastante solidárias, amigas e
acolhedoras! Era como se de repente: a amizade e a confiança depositada em meu
pai estivesse sendo passada para nós.
Iniciamos nossos trabalhos e em dezembro deste mesmo
ano celebramos nosso primeiro Natal com estas famílias.
No início era uma vida muito simples, pois não
tínhamos energia elétrica, água encanada, a água era trazida em latas na cabeça
e colocada em potes. As famílias não tinham filtro e nem tampouco a água era
clorada. O pilão era utilizado para
pilar o arroz, o milho e o café, que posteriormente era torrado no caco.
Nem por isso
deixávamos de sermos felizes. A nossa
comidinha era feita em fogão à lenha, usávamos a panela de barro. As nossas
noites eram iluminadas pelo luar e os candeeiros. Observávamos mais o céu, a
lua e as estrelas. As famílias se reuniam mais para conversar, contar causos,
fazer orações, pois a televisão não havia invadido as nossas casas.
As casas a maioria eram feitas de taipa em regime de
mutirão. Não havia banheiros, por isso à noite usávamos penico e dormíamos em
redes. Foi aqui onde aprendemos verdadeiras lições de humildade e respeito
mútuo. Se faltasse café, ou qualquer outro gênero alimentício eles se ajudavam
mutuamente. Da mesma forma se alguém adoecesse eles deixavam sua casa e família
para cuidar do doente.
O idoso era a pessoa da comunidade mais respeitada.
Aqui na Patarábia nós encontramos Seu Brasil, que morava com Seu Antonio Ferreira
e Dona Maria, Seu Ciriaco, pai de Nonata, Seu Dário, nosso vaqueiro, que já
havia sido vaqueiro de meu avô materno, Né de Almeida e de meu pai: Aurélio
Liberalino. Seu Raimundo, Seu Augusto, Chico Cardoso, Dona Ieda e Carmina.
Todos eram possuidores de uma grande liderança e respeito e como herança da
cultura indígena eram consultados sobre os problemas da comunidade e
reverenciados com a benção!
A Patarábia desfrutava de uma paisagem exuberante.
Havia invernos a cada seis meses. A exemplo do regime feudal vivíamos o sistema
de arrendamento. Cada família plantava: arroz, milho e feijão e pagava a renda
ao proprietário da terra. Além disso, plantavam: jerimum, a fava, a mandioca, a
batata e a verdura. Havia muita fartura de frutas: a manga, a banana, a laranja,
o limão, a goiaba, a ciriguela, a azeitona, a macaúba, etc. As mulheres
fabricavam seu próprio sabão.
O riacho era delicioso! Tomávamos banho naturalmente,
fazíamos cacimba, pequenos buracos para colhermos água sem receio, pois
sabíamos que não era poluído. Hoje não podemos dizer a mesma coisa, apesar de
cuidarmos do nosso espaço, deixando a mata ciliar em volta do riacho e
preservando o meio ambiente as outras pessoas não fazem o mesmo, causando o
desequilíbrio ambiental.
Apesar de toda a devastação que a natureza vem
sofrendo ao longo dos anos com o descaso do Homem, a Patarábia continua bela! É
uma terra, bastante fértil e produtiva!
Uma das maiores paixões nossas é apreciarmos a
beleza das trilhas, o canto dos pássaros, o raiar da aurora e o gado... Ah! o
gado é uma das grandes paixões de Iari.
Com a chegada da energia elétrica, mudaram-se os
hábitos. Ela favoreceu a iluminação de nossas casas; a bomba para puxar a água
da cacimba e um pouco de irrigação, pois é uma energia monofásica, e como tal,
não desenvolve a contento as necessidades de produção. Hoje continuamos apenas
com o sítio de bananeiras, que já se encontrava quando aqui chegamos em 93, uma
plantação de coqueiros e o rebanho bovino.
Incentivadas
pela política do falso assistencialismo: bolsa Família, PRONAF, auxílio
Natalidade, as famílias deixaram de plantar e a desenvolverem o criatório de
galinhas, porcos e caprinos. Hoje, tudo é comprado no mercantil e eles deixaram
de produzir.
Ao longo destes vinte anos muitas
sementes foram lançadas. Implantamos uma cultura de paz, trabalhamos uma
consciência ambiental e acima de tudo o respeito à pessoa humana, independente
de sua classe social.
Em 19 de dezembro de 1999 foi colocado um
cruzeiro, na serra do Espigão em frente a nossa fazenda, fruto de um sonho de
Iari quando aqui chegou em 1993. Esta cruz marca a passagem do século XX para o
século XXI e foi doada pelo nosso grande amigo Paulo Barbosa, já falecido.
Nessa
caminhada desenvolvemos o trabalho missionário com as famílias e as crianças: a
catequese missionária. Em 2002 celebramos a Eucaristia da primeira turma de
crianças. Em maio de 2005 a segunda turma e em maio de 2012 a Eucaristia da
terceira turma, o Batismo de Ruan e celebramos a Páscoa das Famílias.
Muitos natais foram celebrados, recheados
de orações, distribuição de alimentos e momentos de descontrações com as
famílias, as crianças e os idosos. As crianças que brincavam há vinte anos,
hoje são pais de outras crianças.
Em 2002 celebramos nossas Bodas de Prata
e a Formatura de nosso primeiro filho: Marco Aurélio, aqui na fazenda.
Ainda com as famílias realizamos passeios:
ao Horto e anualmente: a novena de Santa Terezinha no LAMAJU em Farias Brito, levamos
às crianças para passeios ao Memorial do
Homem Cariri em Nova Olinda e o Pontal da Santa Cruz em Santana do
Cariri.
Enfim, foram tantos momentos bons,
agradáveis vividos aqui que só temos de agradecer a Deus o privilégio de
desfrutar de tantas alegrias!
Laice Almeida