A mulher que dava, mas não vendia
Jocicleia sempre foi uma moça recalcada,
De família simples, humilde e pobre.
Até que conheceu Reginaldo,
Sua vida teve uma reviravolta
Que jamais imaginava.
Um ano e meio depois de estarem juntos
Ela deu pele primeira vez.
É deu, sentiu vontade de dar deu,
Afinal estava dando o que era dela
E ninguém tem nada a ver com isso.
Mas sentiu-se suja,
Enojada pelo o que fez.
Como se além de perder a honra
Perdeste também a dignidade de mulher.
Chorou, sofreu maldisse a vida.
Depois deu outra vez, e mais outra.
As três primeiras vezes foram iguais,
O mesmo sofrimento a mesma dor.
Depois se acostumou dar.
Não sei se dava por prazer,
Mas segundo ela,
Por necessidade e por amor.
Mas não saía dando por ai
A torto e a direito,
Nem para qualquer um.
Escolhia a dedo a quem dava
Tinha lá suas regras.
Não dava para pobre,
Pobre por pobre bastava ela.
Também não dava para vizinhos,
Porque tinha medo de se arrepender.
Queria evitar comentários,
E sempre tem um fuxiqueiro de plantão.
Só dava para quem tinha condições,
De preferência que morasse longe.
Também não vendia, dava,
Porque vender para ela era pecado,
Mas da, da era um ato de amor.
Por isso ela deu durante sua vida inteira,
Enquanto pode da, deu.
Dava o que era dela,
Por amor e por falta de condições
Dava mas não vendia,
E nunca saiu pelas esquinas
Tentando ganhar alguns trocados.
Nunca deu para vizinhos,
Nem para pobre,
Nunca matou, nem roubou,
Mas deu.
Jocicleia deu e nunca se arrependeu de da,
Seus filhos para outros criarem.
Francis Gomes
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