Por José Cícero
Alex com o secretário JC durante o festival de violeiros na festa do município de Aurora nov/2009.
A verdadeira arte assim como a pérola, demanda tempo para se compor integralmente. Seu aprimoramento de tão extraordinário quase não tem uma explicação plausível. Isso porque o talento artístico nasce a partir daquilo que, por uma ausência de definição quase absoluta, convencionamos chamar simplesmente de dom. Algo pertencente apenas aos vocacionados e/ou predestinados ao eterno milagre dos deuses – Os artistas. Enviados que são para edificar o belo, a estética e o bom-gosto na face da na terra.
Mas diríamos que este detalhe, por sua vez, representa um fenômeno surreal, plasmado no horizonte de uma espontaneidade transcendente e que, por isso mesmo, nos parece deveras inexplicável e às vezes até incognoscível para uma grande maioria de pobres mortais, avessa a grandiosidade da arte e da cultura como um bem universal do homem.
Desta maneira é que tentamos analisar o surgimento de um raro talento no gênero da poesia popular de Aurora. Trata-se do garoto Alex Luna(Alex das Oiticicas), 7 anos de idade. Dos quais, um e meio vem sendo dedicado aos seus primeiros contatos com a viola. Um instrumento, que embora não consiga adquirir devido o preço, tem devotado um verdadeiro fascínio desde que aprendeu a ficar de pé. Conforme relata o seu pai, o Senhor Nonato de Luna que também se diz adepto de um "baiãozinho de viola" onde quer que aconteça nas bibocas do lugar onde moram. Um lugarejo isolado, distante de tudo.
Contudo, mesmo em meio a tantas dificuldades o garoto Alex segue seu destino. Tentando crescer e se firmar no difícil mundo dos repentistas populares. É ele, portanto, o mais novo violeiro do Ceará e, quem sabe até do Brasil. Algo digno, como se ver de constar até mesmo no famigerado livro dos recordes.
Com sua pouca idade, o poeta mirim da Aurora residente no sítio Oiticica a cerca de 23 km da sede é uma verdadeira sensação. Um fenômeno sem nenhum risco de exagero. Uma grande promessa da poesia popular do Cariri. Alex é aquilo que poderíamos denominar de menino prodígio. Um superdotado na expressão lídima do termo; tentando se firmar desde já na difícil arte do improviso poético dos sertões d'Aurora. Tanto que onde passa produz admiradores até mesmo entre os grandes violeiros da região, já tendo inclusive, feito parcerias(cantado) com alguns dos renomados repentistas, tais como: Valdir Teles, Ismael Pereira e Moacir Laurentino, só para citarmos alguns. Tudo isso já evidencia todo o talento emergente deste que, nem podemos chamar de jovem, mas de criança.
Filho de agricultores pobres, Alex das Oiticicas é uma promessa das mais alvissareiras num ramo artístico em que são pouquíssimas as revelações, sobretudo na chamada flor da idade como é o caso do violeiro mirim de Aurora.
O potencial deste menino violeiro salta aos olhos de todos os que gostam e compreendem as nuances da poética que compõem o repentismo popular do Nordeste.
Ainda não completamente alfabetizado, o garoto Alex ainda ler com dificuldade; posto que não fora sequer completamente alfabetizado. Mas sua inteligência é algo digno de nota. Segundo seus pais, consegue aprender tudo com facilidade.
Dotado de uma curiosidade das mais aguçadas, tem feito desta faceta seu principal mecanismo de aprendizagem. Sua fala assim como o expressar das suas idéias são quase as de um homem feito. Na sua verve poética, quando empunha a viola numa sextilha(por enquanto seu estilo preferido), por exemplo, utiliza palavras que não são comuns para uma criança da sua idade. Vendo-o cantar podemos afirmar que ali estar a personificação da esperança que temos no futuro da arte da viola e do repente poético aurorense e, por extensão de toda a ribeira.
Um claro sinal de que toda poesia verdadeira não morre nunca, vez que sempre se renova e sobrevive, além dos homens e dos maus tratos com que muitas vezes tem sido encarada por anos a fio.
Esta vitalidade sinérgica no fundo é o que tem feito com que toda poesia, assim como toda arte e, digamos, a própria cultura popular em geral, tenham no seu conjunto conseguido resistir a todas as intempéries do tempo e da ignorância humana. Como de resto as incompreensões do poder maior. Esta indiferença tem se caracterizado como os cupins da contracultura tradicional. Vez que vem destruindo a sua base de continuidade em nome de uma modernidade teimosa, que reluta em aceitar/apoiar nossos autênticos valores da cultura popular tradicional e do folclore como sendo o chão de quase tudo que temos hoje em termo de manifestação artística.
Quando me deparei pela primeira vez com o jovem Alex, cantado num bar de Aurora, num dia de feira-livre, sozinho sem parceiro, num ambiente estranho e de gente grande(apenas na companhia do pai) foi como se eu estivesse ali diante de uma miragem. Fiquei estupefato diante do talento que aquela criança concentrava na sua inteligência neófita, mas que já dava ali, o ar da sua graça.
Ainda sem o apuro necessário, especialmente na entonação rítmica da voz, devida a pouca idade, pude enxergar naquele menino diferente uma promessa... Uma jóia rara que precisava ser trabalhada e amparada. Um poeta em pleno momento de construção pelas mãos dos deuses da arte. Uma pérola rara da poesia popular.
Era como uma roseira ao ponto de desabrochar, mas que necessitava de cuidados. Ser regada com desvelo e o maior dos nossos carinhos e atenção.
Sua poesia requer paciência. Por isso teremos que esperar, sem o perder de vista, com a paciência dos que esperam pela primavera, assim como o momento exato da colheita. A depuração de um bom vinho. Mas digamos todavia, que o poeta mirim precisa de apoio para que toda a sua poética possa num futuro breve jorrar com um fonte a fertilizar o nosso chão.
Hoje a viola é maior que o poeta violeiro mirim de Aurora, mas não por muito tempo. Posto que daqui a pouco ele se fará maior que seu instrumento, não apenas em estatura, mas principalmente em talento, arte e inspiração.
Alex por tudo isso, é a promessa de um grande encontro da juventude do homem poeta com a sua musa inspiradora. Um grande encontro ainda por acontecer e, que a qualquer momento poderá emergir vir à tona. Para a surpresa dos que não têm a sensibilidade para vislumbrar naquele menino toda poesia possível. E a partir deste momento a poesia de Aurora e de todo a ribeira salgadiana nunca mais será a mesma. Contudo para que este destino se cumpra a contento teremos que fazer a parte que nos cabe.
É preciso que não deixemos de regar esta jovem roseira. É preciso que não deixemos de acreditar na primavera que sempre vem. Tudo porque a poesia, a arte e a cultura são os ingredientes que rejuvenescem a face inteira do mundo e da vida. Um refrigério para amenizar o sofrimento da humanidade. A poesia é o encantamento do gênero humano. Tudo o mais que nos faltar na vida, é toda poesia que nos falta.
De tal maneira, que podemos afirmar que a poesia e o talento de Alex Luna... É toda juventude da arte aurorense nos pedindo permissão para nascer, crescer e encher nossos olhos e espírito de pura fantasia, alegria e contentamento.
No festival de repentista que realizamos por ocasião da festa dos 126 anos do município de Aurora(novembro de 2009), não tive dúvida: o convidei para também se apresentar junto com os violeiros grandes da terra e do além-fronteira.
No palco da festa fez dupla com o violeiro Vicente Bié. Encantou a todos com o seu potencial. Estava à vontade nos meio dos poetas de carreira, como se um deles o fosse. Conversava com Ismael e Valdir Teles com a naturalidade de que há muito lida com a arte do improviso.
Para a fotografia, o seu parceiro teve que se postar de joelhos para que a foto não ficasse desproporcional no quesito altura Após a sua apresentação confidenciou para mim: - Gosto de cantar assim, com muita gente me olhando e aplaudindo. Indaguei o porquê. E ele emendou de chofre: - Por que assim o verso aparece mais depressa. Provoquei-o quando quis saber se a multidão não o deixava nervoso. Ele, com um sorriso maroto replicou: - Não. Ficava com vergonha se não tivesse ninguém para me aplaudir.
Ao lado do seu pai recebeu do poeta da Seculte Cícero Cosme o cachê por sua participação, igual a todos os demais que participaram do festival. Ele sorriu de um modo diferente. Uma mistura de entusiasmo de gente grande com a elegância própria das crianças. Depois já no meio do povo, no centro da festa ele me procurou para agradecer pelo convite, dizendo: - professor muito obrigado por ter me convidado. Ladeado por seu pai. E eu, meio que sensibilizado pela delicadeza da sua atitude de menino educado, quase sem palavra, apenas lhe disse: – que nada meu pequeno grande poeta. Nós é que lhe agradecemos por você ter aceitado o nosso convite. Você abrilhantou ainda mais o nosso festival.
Parecia feliz por ter recebido ali seu primeiro cachê por seu ofício precoce de poeta violeiro. Disse-me por fim, segurado a mão do seu pai e me estendendo a outra, que estava sempre à disposição quando a secretaria realizasse um outro evento. E se perdeu de vista no meio da multidão junto do seu pai.
Mas diríamos que este detalhe, por sua vez, representa um fenômeno surreal, plasmado no horizonte de uma espontaneidade transcendente e que, por isso mesmo, nos parece deveras inexplicável e às vezes até incognoscível para uma grande maioria de pobres mortais, avessa a grandiosidade da arte e da cultura como um bem universal do homem.
Desta maneira é que tentamos analisar o surgimento de um raro talento no gênero da poesia popular de Aurora. Trata-se do garoto Alex Luna(Alex das Oiticicas), 7 anos de idade. Dos quais, um e meio vem sendo dedicado aos seus primeiros contatos com a viola. Um instrumento, que embora não consiga adquirir devido o preço, tem devotado um verdadeiro fascínio desde que aprendeu a ficar de pé. Conforme relata o seu pai, o Senhor Nonato de Luna que também se diz adepto de um "baiãozinho de viola" onde quer que aconteça nas bibocas do lugar onde moram. Um lugarejo isolado, distante de tudo.
Contudo, mesmo em meio a tantas dificuldades o garoto Alex segue seu destino. Tentando crescer e se firmar no difícil mundo dos repentistas populares. É ele, portanto, o mais novo violeiro do Ceará e, quem sabe até do Brasil. Algo digno, como se ver de constar até mesmo no famigerado livro dos recordes.
Com sua pouca idade, o poeta mirim da Aurora residente no sítio Oiticica a cerca de 23 km da sede é uma verdadeira sensação. Um fenômeno sem nenhum risco de exagero. Uma grande promessa da poesia popular do Cariri. Alex é aquilo que poderíamos denominar de menino prodígio. Um superdotado na expressão lídima do termo; tentando se firmar desde já na difícil arte do improviso poético dos sertões d'Aurora. Tanto que onde passa produz admiradores até mesmo entre os grandes violeiros da região, já tendo inclusive, feito parcerias(cantado) com alguns dos renomados repentistas, tais como: Valdir Teles, Ismael Pereira e Moacir Laurentino, só para citarmos alguns. Tudo isso já evidencia todo o talento emergente deste que, nem podemos chamar de jovem, mas de criança.
Filho de agricultores pobres, Alex das Oiticicas é uma promessa das mais alvissareiras num ramo artístico em que são pouquíssimas as revelações, sobretudo na chamada flor da idade como é o caso do violeiro mirim de Aurora.
O potencial deste menino violeiro salta aos olhos de todos os que gostam e compreendem as nuances da poética que compõem o repentismo popular do Nordeste.
Ainda não completamente alfabetizado, o garoto Alex ainda ler com dificuldade; posto que não fora sequer completamente alfabetizado. Mas sua inteligência é algo digno de nota. Segundo seus pais, consegue aprender tudo com facilidade.
Dotado de uma curiosidade das mais aguçadas, tem feito desta faceta seu principal mecanismo de aprendizagem. Sua fala assim como o expressar das suas idéias são quase as de um homem feito. Na sua verve poética, quando empunha a viola numa sextilha(por enquanto seu estilo preferido), por exemplo, utiliza palavras que não são comuns para uma criança da sua idade. Vendo-o cantar podemos afirmar que ali estar a personificação da esperança que temos no futuro da arte da viola e do repente poético aurorense e, por extensão de toda a ribeira.
Um claro sinal de que toda poesia verdadeira não morre nunca, vez que sempre se renova e sobrevive, além dos homens e dos maus tratos com que muitas vezes tem sido encarada por anos a fio.
Esta vitalidade sinérgica no fundo é o que tem feito com que toda poesia, assim como toda arte e, digamos, a própria cultura popular em geral, tenham no seu conjunto conseguido resistir a todas as intempéries do tempo e da ignorância humana. Como de resto as incompreensões do poder maior. Esta indiferença tem se caracterizado como os cupins da contracultura tradicional. Vez que vem destruindo a sua base de continuidade em nome de uma modernidade teimosa, que reluta em aceitar/apoiar nossos autênticos valores da cultura popular tradicional e do folclore como sendo o chão de quase tudo que temos hoje em termo de manifestação artística.
Quando me deparei pela primeira vez com o jovem Alex, cantado num bar de Aurora, num dia de feira-livre, sozinho sem parceiro, num ambiente estranho e de gente grande(apenas na companhia do pai) foi como se eu estivesse ali diante de uma miragem. Fiquei estupefato diante do talento que aquela criança concentrava na sua inteligência neófita, mas que já dava ali, o ar da sua graça.
Ainda sem o apuro necessário, especialmente na entonação rítmica da voz, devida a pouca idade, pude enxergar naquele menino diferente uma promessa... Uma jóia rara que precisava ser trabalhada e amparada. Um poeta em pleno momento de construção pelas mãos dos deuses da arte. Uma pérola rara da poesia popular.
Era como uma roseira ao ponto de desabrochar, mas que necessitava de cuidados. Ser regada com desvelo e o maior dos nossos carinhos e atenção.
Sua poesia requer paciência. Por isso teremos que esperar, sem o perder de vista, com a paciência dos que esperam pela primavera, assim como o momento exato da colheita. A depuração de um bom vinho. Mas digamos todavia, que o poeta mirim precisa de apoio para que toda a sua poética possa num futuro breve jorrar com um fonte a fertilizar o nosso chão.
Hoje a viola é maior que o poeta violeiro mirim de Aurora, mas não por muito tempo. Posto que daqui a pouco ele se fará maior que seu instrumento, não apenas em estatura, mas principalmente em talento, arte e inspiração.
Alex por tudo isso, é a promessa de um grande encontro da juventude do homem poeta com a sua musa inspiradora. Um grande encontro ainda por acontecer e, que a qualquer momento poderá emergir vir à tona. Para a surpresa dos que não têm a sensibilidade para vislumbrar naquele menino toda poesia possível. E a partir deste momento a poesia de Aurora e de todo a ribeira salgadiana nunca mais será a mesma. Contudo para que este destino se cumpra a contento teremos que fazer a parte que nos cabe.
É preciso que não deixemos de regar esta jovem roseira. É preciso que não deixemos de acreditar na primavera que sempre vem. Tudo porque a poesia, a arte e a cultura são os ingredientes que rejuvenescem a face inteira do mundo e da vida. Um refrigério para amenizar o sofrimento da humanidade. A poesia é o encantamento do gênero humano. Tudo o mais que nos faltar na vida, é toda poesia que nos falta.
De tal maneira, que podemos afirmar que a poesia e o talento de Alex Luna... É toda juventude da arte aurorense nos pedindo permissão para nascer, crescer e encher nossos olhos e espírito de pura fantasia, alegria e contentamento.
No festival de repentista que realizamos por ocasião da festa dos 126 anos do município de Aurora(novembro de 2009), não tive dúvida: o convidei para também se apresentar junto com os violeiros grandes da terra e do além-fronteira.
No palco da festa fez dupla com o violeiro Vicente Bié. Encantou a todos com o seu potencial. Estava à vontade nos meio dos poetas de carreira, como se um deles o fosse. Conversava com Ismael e Valdir Teles com a naturalidade de que há muito lida com a arte do improviso.
Para a fotografia, o seu parceiro teve que se postar de joelhos para que a foto não ficasse desproporcional no quesito altura Após a sua apresentação confidenciou para mim: - Gosto de cantar assim, com muita gente me olhando e aplaudindo. Indaguei o porquê. E ele emendou de chofre: - Por que assim o verso aparece mais depressa. Provoquei-o quando quis saber se a multidão não o deixava nervoso. Ele, com um sorriso maroto replicou: - Não. Ficava com vergonha se não tivesse ninguém para me aplaudir.
Ao lado do seu pai recebeu do poeta da Seculte Cícero Cosme o cachê por sua participação, igual a todos os demais que participaram do festival. Ele sorriu de um modo diferente. Uma mistura de entusiasmo de gente grande com a elegância própria das crianças. Depois já no meio do povo, no centro da festa ele me procurou para agradecer pelo convite, dizendo: - professor muito obrigado por ter me convidado. Ladeado por seu pai. E eu, meio que sensibilizado pela delicadeza da sua atitude de menino educado, quase sem palavra, apenas lhe disse: – que nada meu pequeno grande poeta. Nós é que lhe agradecemos por você ter aceitado o nosso convite. Você abrilhantou ainda mais o nosso festival.
Parecia feliz por ter recebido ali seu primeiro cachê por seu ofício precoce de poeta violeiro. Disse-me por fim, segurado a mão do seu pai e me estendendo a outra, que estava sempre à disposição quando a secretaria realizasse um outro evento. E se perdeu de vista no meio da multidão junto do seu pai.
Desde então não me esqueço dos seus olhos brilhando de felicidade por ter cantado para uma platéia tão grande e ainda por cima pelo seu primeiro cachê que ganhara como repentista. Pedi-lhe que tirasse uma foto comigo. E ele fez pose como se fosse um repentista adulto.
Alex das oiticicas, além de um artista que promete é um bom menino. Que os deuses da cultura o proteja e ilumina para o todo e sempre...
José Cícero
Professor, Escritor e Poeta
Sec. de Cultura de Aurora-CE
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