sábado, 9 de janeiro de 2010

ENCONTRÃO´ NO CARIRI Para preservar o Seminário



Se depender dos ex-alunos, o antigo Seminário São José, no Crato, terá seu prédio secular preservado

Crato. Com uma visita ontem ao casarão do Seminário São José do Crato, foi aberta a programação preparativa do encontro de ex-seminaristas que será realizado, nos dias 6 e 7 de março, com a presença, segundo a coordenação do evento, de cerca de 500 ex-seminaristas espalhados em todo o Brasil, entre os quais padres, bispos, mecânicos, médicos, políticos, advogados, aposentados, enfim representantes de diferentes categorias profissionais.

O objetivo do encontro, além da confraternização, é o lançamento de uma campanha em favor do antigo prédio do Seminário, inaugurado no dia 7 de março de 1885, por dom Luiz Antônio dos Santos, então bispo do Ceará. O Seminário São José se tornou uma modelar escola eclesiástica, pujante centro cultural que, durante 100 anos, atraiu com sua luminosidade jovens não só do Ceará, mas de todos os Estados vizinhos. Foi o primeiro estabelecimento de ensino religioso e superior do interior do Nordeste, embrião da Universidade Regional do Cariri (Urca).

O encontro do ex-seminaristas tem esse objetivo de lançar a campanha em favor da preservação do prédio do Seminário, hoje um dos maiores patrimônios históricos da cidade. O monsenhor João Bosco Cartaxo Esmerado, um dos coordenadores do encontro, pretende descobrir ex-seminaristas que tenham ligações com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com o objetivo de conseguir recursos para preservação do casarão que ainda hoje continua abrigando seminaristas em formação.

O bancário aposentado e ex-seminarista, Carlos Alberto Bezerra de Brito (conhecido domo Bebeto), lembra que o Seminário foi o celeiro cultural de grandes nomes que se projetaram pelo País, refúgio de outros tantos que passaram despercebidos entre as muralhas do antigo relicário de recordações.

Na primeira reunião formal realizada ontem, foi definido que os ex-seminaristas residentes fora do município e sem família na região, ficarão hospedados no Centro da Expansão da Diocese de Crato, no sopé da Serra do Araripe.

O evento está sendo coordenado pelo ex-seminarista João Teófilo Pierre, que define o chamado "Encontrão" como uma dose de espírito saudosista e lúdico, revivendo tempos que, bem ou mal, conforme a ótica de cada um, concorreram para formar a personalidade de cada um dos formandos.

"Com cerca de 250 alunos matriculados, por ano, na década de 50, o Seminário exerceu um papel relevante na história da Educação do Nordeste", diz o aposentado José Aristides Cisne, lembrando que aquele educandário católico foi também uma escola de jornalismo. Ali circulou o jornal "O Levita", que será reeditado durante o encontro em março.

Monsenhor João Bosco defende também uma campanha de ajuda financeira ao Seminário com a finalidade de promover as vocações sacerdotais. Ele justifica que é uma forma de retribuir a contribuição que o velho educandário deu ao Cariri.

CELEIRO

"O Seminário foi o celeiro cultural de grandes nomes que se projetaram no País"
CARLOS ALBERTO BRITO
Bancário aposentado

"Seminário foi também uma escola de jornalismo, com o jornal O Levita"
José Aristides Cisne
Bancário aposentado

MAIS INFORMAÇÕES
Professor João Teófilo Pierre, (85) 3101.9682/ 3262.3103
Diocese de Crato, Rua Teófilo Siqueira, 632, Crato (CE), (88) 3521.1110

RESGATE DA MEMÓRIA

Nostalgia marca visita dos ex-alunos

Crato.
Em meio às emoções de nostalgia e o desejo de reencontro com velhos companheiros, a coordenação do evento lembra passagens constrangedoras como a palmatória, instrumento de disciplina, que era usado nas escolas de antigamente. Ainda hoje, a palmatória do padre Aldemir Sobreira assombra os pesadelos daqueles que tiveram a desdita de sofrer esta forma de disciplina escolar.

Brincadeiras, micos e apelidos curiosos como "Mala Velha", "Mane Guabira", "Guaraina Trepidação", "Fogueteiro" e "Romeirinho", dentre outros, estão sendo lembrados neste olhar distante pelo retrovisor do tempo.

É com esta proposta que os ex-seminaristas pretendem rever o parlatório, sala onde os seminaristas recebiam seus familiares, a capela de São José, onde eles aprendiam a ajudar missa em latim, o dormitório, o refeitório, o campo de futebol e a cafua, onde era guardado o material esportivo.

No livro "Crato, Meu Relicário", o advogado Francisco Pedro de Oliveira lembra que "para os que chegavam ao Seminário pela primeira vez, considerados novatos, eram difíceis os primeiros dias; era como despertar de um sonho e sentir-se desorientado. E o pior, sozinhos, num ambiente estranho, longe da convivência com os familiares e amigos, deixados para trás, inteiramente enclausurados, como um pássaro engaiolado, em companhia de outros jovens, cujo destino fez com que comungassem a mesma sorte". A nova experiência de vida, segundo Chico Pedro, era moldada e direcionada no sentido de obedecer a um conjunto de regras e princípios básicos, voltados diretamente para o comportamento, a educação e a moral, a trilogia fundamental para a vocação religiosa.

O advogado lembra que os seminaristas eram vigiados permanentemente pelos chamados "regentes", que tinham a espinhosa, difícil e incompreensível tarefa de transmitir ao superior ou ao prefeito de disciplina sua observação sobre o comportamento deles no decorrer da semana de atividades.

"Na prática, o sistema idealizado pelos dirigentes escolares da época entendiam que o castigo físico era um corretivo indispensável, útil e fundamental para a formação da personalidade dos adolescentes". Ao fazer este comentário, Chico Pedro caminha por entre as colunas do velho casarão, lembrando dos tempos de juventude.

ANTÔNIO VICELMO
Repórter

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