E voltasse a ser como era antigamente
Para eu reviver velhas alegrias.
E eu voltasse ser criança novamente,
E se possível, ser criança eternamente...
Envelhecer na meninice dos meus dias.
Como eu queria ser criança a vida inteira!
Cabelo duro todo sujo de poeira,
Chegar em casa e ouvir, mamãe falar:
-O que tu fez com a tua cabeleira?
-Por ventura faltou água a cachoeira
-Vem cá menino deixa que eu vou te banhar”.
-Traz o sabugo e rapa de juá,
-Este cascão hoje vai ter que limpar.
-Mamãe já sou homem macho.
-Vem logo se não quiser apanhar.
E eu saía, pula pra lá e pra cá,
Até chegar a beirada do riacho.
Chegando lá, mamãe dizia: - entra no rio.
Eu brincava até ficar roxo de frio,
Só saia quando mamãe me chamava.
-Vem cá menino, me deixaeu ver o teu ouvido,
-Limpou direito? Coisa que eu duvido.
E com um pano velho me secava.
-Dá a mão filho vamos embora.
E nós saia caminhando estrada afora,
Até chegar a nossa casinha de sapé.
Enquanto mamãe fazia o jantar,
Eu brincava esperando papai chegar
De repente escutava bater o pé.
-Mamãe, mamãe, papai chegou,
-Ele vai pro rio eu também vou.
-Posso ir papai, com o senhor?
-Não filho, papai volta já,
-Fique com a mamãe preparando o jantar,
-Você já banhou.
-Mamãe, mamãe, quero jantar.
-Calma filho, espera o papai chegar,
-Ele já esta vindo.
E de repente ela corria e me abraçava,
Me mordia, me apertava, me beijava,
Eu nem sei, se chorando ou se sorrindo.
Uma aurora bronzeada sobre a terra!
Era o sol se escondendo atrás da serra,
E os pássaros procurando onde pousar.
Enquanto isso eu olhava da janela,
Vendo papai que abria a cancela,
E eu corria para mesa de jantar.
Papai e mamãe sentavam,
E eu subia na cadeira enquanto oravam.
Mamãe fazia nosso prato, depois o dela.
Depois sentávamos na beira da calçada,
Olhando o céu, observando a passarada,
Eu cochilava e dormia no colo dela.
Quando o poeta, nem pensava em ser poeta,
Era apenas uma criança discreta,
Protegido pelo o rei e a rainha,
Hoje, sou mais um entre os corações contritos,
Um poeta que ninguém ler seus escritos,
Revoada de uma única andorinha.
E a criança que pulava alegremente,
Com o pai e a mãe sempre presente,
De saudades hoje o seu coração ferve.
Com os seus pais tão distantes e tão ausentes,
O poeta é um homem tão carente,
Que se torna uma criança quando escreve.
Se eu pudesse pedir algo ao altíssimo,
E minha voz chegasse ao Senhor justíssimo,
Neste dia eu pediria um só presente:
Humildemente em nome de Jesus Cristo,
Este poeta que ninguém ler seus escritos,
Só deseja se criança novamente.
Que saudade, sinto da minha infância,
Do meu tempo de criança,
Eu, papai, mamãe, nós três.
Há! Se o tempo parasse de repente...
Voltasse a ser como era antigamente,
E eu pudesse ser criança outra vez.
Francis Gomes
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